Ativismo que Transforma | Lindacy Assis e a Biblioteca sustentável Palmira Gregório em Olinda
- Pernambuco Transparente
- 11 de jul. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 12 de jul. de 2022
O Pernambuco Transparente, projeto que há quase 5 anos ajuda a promover a transparência e integridade públicas a partir de um foco metropolitano, iniciou a abertura de seu blog como um canal para divulgação de atuações compromissadas e referenciais no estado com o propósito de desenvolvimento da cidadania: contribuição que também temos como objetivo. O Acesso à Informação, mais do que um direito que consagra o alcance de qualquer cidadão a dados por natureza públicos, é igualmente essencial para o aprimoramento do controle social estabelecido na Constituição Federal (reforçado com a Lei de Responsabilidade Fiscal e a recente Lei de Defesa do Usuário de Serviços Públicos). O avanço desta cultura é a base de uma nova cidadania, que desejamos alimentar, na busca de um progresso mais justo e sustentável.
Por entendermos esse papel crucial e seu caráter transversal para o impulsionamento da qualidade de políticas públicas, estamos em constante diálogo com outros movimentos da sociedade - e além da postura que já adotamos de divulgar suas experiências em nossas redes sociais, intensificamos por meio de nosso portal. As iniciativas serão apresentadas por seus próprios criadores, nas suas próprias palavras. Caso deseje ter a história da sua luta aqui é só entrar em contato!
Na quinta publicação, conheça a missão da Biblioteca Comunitária Palmira Gregório, que atende os bairros do Fragoso e Cidade Tabajara, na divisa entre Olinda e Paulista, na Região Metropolitana do Recife. Coordenada por uma grande ativista, a sede fica localizada na Avenida Flores do Campo 345, Casa 21 (Fragoso) e tem o alvo de promover o acesso à leitura e à educação ambiental mediante coleta seletiva. Superando a ausência de governança municipal típica das divisas entre cidades no estado, mesmo no auge da pandemia continuaram em ação (obedecendo os protocolos de higiene e distanciamento com uso de máscara e álcool em gel), orientando crianças nas tarefas escolares, emprestando livros, e até arrecadando alimentos para doações. Uma esplêndida demonstração da evolução social que o engajamento obstinado pode gerar.
Por Lindacy Assis
Bióloga e criadora da Biblioteca
Coordenadora do Coletivo de Mulheres Negras de Pernambuco
A comunidade de Fragoso (Olinda/PE), como toda comunidade periférica, sofre com a defasagem na educação básica. As crianças frequentemente são consideradas alfabetizadas, mas não conseguem ler nem escrever. Diante dessa situação observada em minha comunidade, convidei uma amiga - Ana Albuquerque (que, como eu, adora bibliotecas), para criarmos uma biblioteca comunitária, na perspectiva de estimular a leitura das crianças, jovens e adultos.
Iniciamos arranjando emprestado da minha irmã um espaço livre (onde antes funcionava um açougue e que encontrava-se desativado). Depois, requisitamos à comunidade doação de livros. Organizamos a estrutura (com pintura, decoração atrativa), estampamos o nome da Biblioteca Comunitária Palmira Gregório no muro com desenho de livros (uma homenagem a minha avó), e expusemos os livros nas prateleiras. Convidamos as mães para conhecer, explicamos a finalidade e pedimos que encorajassem suas crianças para participar. Elas começaram a frequentar, e estreamos, em dezembro de 2013, com contação de histórias - foi quando usamos um quadro para dimensionar o nível de alfabetização e percebemos o desafio que iríamos ter que enfrentar.
Após algumas visitas das crianças, as mães solicitaram reforço escolar. Daí, engrenamos com o reforço e o despertar à leitura. Diante da demanda (reforço escolar, empréstimos de livros, consultas a livros para trabalho escolar), nos mudamos para a casa de minha mãe (ela havia falecido e o local estava à disposição). Após a mudança, lançamos dois projetos e que tornaram-se permanentes: o Cirandinha de Leitura (em 2015) e o Recicle Seu Lixo Por Um Mundo Melhor (em 2019).
Nossa pretensão era o incentivo à leitura. Só que o público necessitava de algo a mais: alfabetização e educação ambiental (havia uma concentração de lixo no entorno, que mesmo os animais espalhavam por toda a rua). Então, o Cirandinha de Leitura nasceu da urgência de alfabetizar de fato as crianças para conseguir instigar a leitura. E, o Recicle Seu Lixo Por Um Mundo Melhor surgiu da carência da educação ambiental e conscientização da comunidade sobre a coleta seletiva - a perspectiva de que o 'lixo' das residências pode transformar a realidade de cada um.
Em conjunto, acabamos com o ponto de acúmulo de descarte irregular de lixo da rua e plantamos algumas mudas no local:

Também fizemos parcerias para oportunizar outras atividades em ocasiões especiais (como o Dia das Crianças, Mês da Consciência Negra, ou datas que visam marcar avanços científicos e alertas sobre doenças). Dentre as quais, vale mencionar os exemplos das que tecemos com a Associação de Teatro de Olinda ("Arteiros de Olinda", em vídeo abaixo) e as visitas ao Espaço Ciência.
As conquistas que tivemos foram a adesão da comunidade no Projeto Recicle Seu Lixo Por Um Mundo Melhor (no qual trazem para a biblioteca os materiais reciclados limpos e separados) e a parceria com a Empresa Planeta Limpo, que recolhe e compra nossos reciclados. O recurso da venda, por sua vez, sustenta o Projeto Cirandinha de Leitura (na compra do lanche, do material didático e da água que consumimos). Já as dificuldades, somam a falta de apoio por parte do poder público, o precário acesso à biblioteca, a falta de voluntários e de suporte financeiro às educadoras.
É de grande importância uma Biblioteca Comunitária no contexto local, devido a sua grandeza cultural, e à linguagem literária ser responsável por todas as outras (música, artesanato, dança etc). Inclusive, frente à necessidade de uma representação do seguimento literatura, candidatei-me à conselheira do Conselho Municipal de Cultura de Olinda, sendo eleita titular da cadeira. Dessa forma consigo fiscalizar, pautar as políticas públicas de incentivo à leitura, e propor o fomento à criação de bibliotecas comunitárias nos bairros (estes são 40, no total). Caminho com a certeza que educar é transformar realidades.

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